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'Meu Nome é Dolemite' marca a volta triunfal de Eddie Murphy

Papel de Rudy Ray Moore pode até render uma indicação ao Oscar ao comediante que dominou as bilheterias nos anos 1980.


Sem um grande papel desde Dreamgirls (2006), o comediante Eddie Murphy passou os últimos 13 anos se contentando em ser a voz do Burro em dois longas e alguns especiais para a TV da franquia de animação Shrek

Vamos combinar que é muito pouco para quem já foi uma grande estrela de Hollywood na década de 1980, uma época em que protagonistas negros em filmes de grandes estúdios eram quase inexistentes. 

Impulsionado por suas ótimas participações no policial 48 Horas (1982) e na comédia Trocando as Bolas (1983), além de sua bombástica passagem pelo programa de TV Saturday Night Live (de 1980 a 1984), Murphy se transformou em um astro da telona de maneira meteórica, emplacando sucessos improváveis, como Um Tira da Pesada (1984) e Um Príncipe em Nova York (1988).

Os anos 1990 não foram tão marcantes no quesito qualidade, mas mesmo assim lhe renderam dois grandes hits: os remakes de O Professor Aloprado (1996) e Dr. Dolittle (1998).


A partir daí, seus acertos ficaram restritos a personagens de animação, como dragãozinho Mushu, de Mulan (1998), e o Burro da série Shrek (a partir de 2001), porque os filmes... Murphy emendou uma sequência de títulos fracos que se mostraram fracassos retumbantes de público, como: Showtime (2002), Pluto Nash (2002), Sou Espião (2002), A Creche do Papai (2003), Mansão Mal-Assombrada (2003) e Norbit (2007).    

Tudo indicava que a carreira de Murphy, hoje com 58 anos, estava relegada a pequenos papéis em comédias genéricas, como Roubo nas Alturas (2011), filmes para TV (como a versão de 2013 de Um Tira da Pesada em que o protagonista é, na verdade, o filho do policial Axel Foley) e grandes tiros n’água como As Mil Palavras (2012) e Mr. Church (2016).


Eddie Murphy soube compreender como ninguém a persona do "faz tudo" Rudy Ray Moore.

Mas eis que surge a figura de Rudy Ray Moore para salvar o dia. Um papel perfeito para Murphy, que se encaixa como uma luva em seu estilo “faz tudo”. Em Meu Nome é Dolemite, produção da Netflix que entrou no catálogo da plataforma de streaming na última sexta-feira (25), ele pode atuar, fazer strand up, cantar e ser... Bom, Eddie Murphy. Isso porque Moore também fazia tudo isso.


Wesley Snipes é outro nome que andava meio esquecido e voltou em Meu Nome é Dolemite.

Um tipo de Ed Wood do subgênero Blaxploitation (filmes policiais com temáticas e elenco em sua maioria de atores e atrizes negros), Rudy Ray Moore tentou absolutamente de tudo para emplacar um carreira artística enquanto seu principal ganha-pão era ser gerente de uma loja de discos.

Ele não deu certo como cantor, então partiu para a comédia, conseguindo um certo êxito cult na década de 1970 com discos de humor bem chulo na pele de Dolemite, um cara durão e desbocado que fazia piadas de duplo sentido usando rimas. Aliás, há quem aponte Moore como um dos precursores do rap. 

Porém, mesmo conseguindo, afinal, alcançar o estrelato (mesmo que de forma limitada), Moore não estava satisfeito e resolveu alçar voos maiores. Ele queria transformar Dolemite em um astro do cinema. É esse período, entre o surgimento do comediante e a filmagem de Dolemite (1975), que Meu Nome é Dolemite retrata.


Outro ponto forte do filme é seu elenco de apoio, como Tituss Burgess (Unbreakable Kimmy Schmidt) e Craig Robinson (Brooklyn Nine-Nine)

Com roteiro de Scott Alexander e Larry Karaszewski, especialistas em cinebiografias como Ed Wood (1994), O Povo Contra Larry Flint (1996) e O Mundo de Andy (1999), Meu Nome é Dolemite é uma daquelas declarações de amor ao cinema por linhas tortas. Um filme que ri, é verdade, mas que também admira a tenacidade de personagens peculiares da sétima arte, como Ed Wood, Tommy Wiseau, “homenageado” em O Artista do Desastre (2017) e, claro, Rudy Ray Moore.

Aliás, assim como em Ed WoodO Artista do Desastre, um dos grandes baratos de Meu Nome é Dolemite é a reconstituição de cenas “icônicas” de Dolemite, um daqueles casos clássicos de filme que é tão ruim que é bom. A produção de 1975 se transformou em um fenômeno cult e rendeu duas sequências e meia, já que o personagem ganhou uma versão “oriental” em Shaolin Dolemite (1999).

Ou seja, Rudy Ray Moore, que morreu em 2008 aos 81 anos, era uma verdadeira figura. Tanto cômica quanto trágica. Alguém que Eddie Murphy soube compreender como ninguém, pois se identifica com ele.

Ponto para ele e para seus fãs, que podem, mais uma vez, ver Murphy fazendo o que sabe de melhor, além de se divertir com sua persona quixotesca que em muitas vezes se confunde com a de Moore... Um cara que não perde tempo em capitalizar o bom momento.

Duvida? Pois já estão confirmados as sequências Um Príncipe em Nova York 2 e Um Tira da Pesada 4 para 2020.






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